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DIÁRIO DIA 30: ECONOMIA DA SAÚDE

  • Foto do escritor: Regina Miranda
    Regina Miranda
  • 19 de abr. de 2020
  • 6 min de leitura

Atualizado: 25 de abr. de 2020

Às vezes a gente tem uns sonhos que parecem não acabar. Sonhos ruins. Você acorda e pensa “ufa, foi só um sonho!”, aí volta a dormir e o sonho ruim continua. Tive alguns assim. É bem angustiante. Mas, em algum momento a noite acaba e, definitivamente, acordamos do pesadelo. O pesadelo do COVID19 não vai acabar. Porque, embora pareça, não é sonho. É real. Bem real. Não sei se está ocorrendo com mais alguém, mas comigo, embora eu tenha plena consciência de que é real, a sensação que me persegue quando tento racionalizar sobre esse vírus e como está afetando O MUNDO TODO… a sensação que me vem é a mesma de um pesadelo. O problema é, justamente, que não é um pesadelo. Essa crise sanitária mundial faz parte, agora, da nossa realidade. E é a partir dessa realidade que teremos que pensar a CONTINUIDADE DA NOSSA VIDA de agora em diante e para além da crise. O mundo pós coronavírus não será mais o mesmo. A realidade de janeiro de 2020 nunca mais voltará. Isso é um fato que, por mais que muitos ainda insistam em negar, é a realidade.

Esta constatação é uma das conclusões (bem óbvia, eu acho) a que chegam Atila Iamarino (biólogo e doutor em microbiologia) e Monica de Bolle (economista e doutora em crises financeiras). Janeiro… o mundo como conhecíamos em janeiro de 2020 não volta. Nunca mais será o mesmo. Por vários fatores e sob vários aspectos. Mesmo os países que estão conseguindo passar quase ilesos pela crise (por enquanto) como a ilha Nova Zelândia, não sairão dessa crise sanitária com a mesma realidade. Nosso mundo, como todos sabem, é globalizado. A economia dos países é interdependente. Desse fato dado decorre outra das conclusões dos dois especialistas, no vídeo cujo link você encontra abaixo, sobre o porquê é ridículo pensar que a China espalhou o vírus de propósito. É ridículo porque a China, ainda mais do que boa parte do mundo, é profundamente dependente da economia globalizada. O país enfrentou o vírus com mais eficiência que outros países e, nem por isso, está numa boa situação econômica. China já está em crise financeira. E, claro, óbvio, isso afetará o mundo todo. Exemplo de que a China nada ganha com a crise do COVID19 é a redução que terá em sua participação na indústria farmacêutica, segundo a análise desses especialistas. O raciocínio é simples. Não temos disponibilidade mundial de insumos para enfrentar a crise de saúde (EPIs, medicamentos, testes etc.). Assim, uma das estratégias que todos os países terão que desenvolver para enfrentar a crise é recapitular seu parque industrial e tornarem-se autossuficientes na produção desses insumos. Depois de passada a crise, a China pode ter perdido boa parte de seus clientes de exportação desses insumos. Essa conversão industrial é apontada pelos dois como algo absolutamente necessário para hoje, para ontem. Nessa questão podemos seguir o exemplo de Trump (mil ressalvas aqui). O presidente estadunidense pediu ao setor industrial essa conversão: GM e semelhantes produzirem respiradores, por exemplo.

Podemos pensar, então, em propostas para uma economia voltada para a saúde. E falamos de saúde mesmo. Não de alopatia, apenas. Serão necessários os medicamentos, certamente. Mas também é necessária toda estrutura de saúde de PREVENÇÃO. Lavar mãos, usar máscaras quando se tem sintomas de gripe, são formas de prevenir a propagação de qualquer doença, não apenas da COVID19. Que tal mantermos isso? Da mesma forma, em escala macro, as autoridades precisam desenvolver estratégias de contenção de epidemias. Não é, de fato, apenas a COVID19 que mata, em todo o mundo. Será que já não passou da hora de pensarmos, de fato, uma ECONOMIA DA SAÚDE, não da doença? Quando comparamos a situação atual de cada país frente à doença e observamos como cada um se comportou desde o início, com relação à prevenção, parece-me que fica claro o quanto isso é importante hoje e será importante sempre. O vídeo dá conta da diferença de realidade entre Espanha e Portugal, por exemplo. Os lusitanos “fecharam” mais cedo (fronteiras, comércio, escolas etc.) do que os espanhóis. A reação de Portugal foi mais consistente e rápida; por isso, está conseguindo fazer um “gestão da crise” muito mais eficaz. Aprofundando essa questão da “gestão da crise”: mortes por COVID19 ainda ocorrerão, muitas, pelo mundo todo; a questão é como fazer a gestão dessa fatalidade inevitável. Países que estavam com o contágio sob controle tentaram voltar à normalidade de atividades e tiveram que voltar atrás (vide China), pois com a liberação do retorno a uma certa “normalidade”, a curva de casos tornou a subir. Tendo começado a contenção mais cedo, Portugal consegue manter essa curva achatada e, por isso, consegue (através, é claro, também, de testes) ter maior controle sobre quantos casos de doença e de óbito o país tem, por epicentros e, assim, concentrar esforços e disponibilizar estrutura (insumos e profissionais) para atender a quem precisa. Enquanto Espanha continua “apagando incêndio”, tentando evitar um número ainda maior de mortos, “correndo atrás do prejuízo”. Fica muito difícil fazer a gestão do atendimento à saúde da população se o sistema já chegou ao colapso. Angela Merkel (Alemanha) explicou isso muito bem à sua população (quem nos dera ter alguém assim a frente das decisões em nosso país). É possível que a Alemanha chegue ao colapso mesmo com as medidas preventivas? Sim, mas esse colapso chegar em outubro de 2020 (trata-se de cálculos com base no avanço da doença na situação hoje instituída no país, considerando número de leitos, distanciamento social, disponibilidade de profissionais etc.) e não em maio de 2020 o país tem chance de salvar mais pessoas (óbvio também). Não só porque até outubro com sistema funcionando à contento conseguirá ter tratado mais pessoas do que com o colapso já em maio, como também porque até lá, a tendência é estarmos mais próximos de medicamentos mais efetivos e de uma vacina.

O que fica bem claro após os esclarecimentos do vídeo é que temos que nos preparar para o mundo pós-COVID19. Temos que encarar a realidade e lidar com ela. Fazer limonada de limões? Pode-se usar dessa metáfora quem queira. Mas o mais importante é que a ficha caia de vez. Temos que começar a pensar em nossa rotina A PARTIR daqui. Os parâmetros de como fazer e o que fazer serão outros. Os paradigmas serão outros. Como exatamente serão sequer sabemos. Mas certamente serão outros. As relações internacionais de comércio serão profundamente afetadas. E como isso vai afetar diretamente a realidade de cada um? Um ponto abordado na conversa dos dois nesse vídeo que é bastante significativa do quanto e como essa crise irá afetar a todos e cada um: escola. Quando e como as aulas da maneira como nós as entendíamos poderão voltar sem que estejamos aumentando exponencialmente o risco a que estaremos expondo crianças e adolescentes? O que fazer então? O quanto o ano letivo de 2020 é importante PARA A SOCIEDADE (veja: para a sociedade… não para você e seu umbigo)? É mais importante que o enfrentamento consciente e “pé no chão” da crise? Temos tecnologia já desenvolvida para muitas soluções para o dia a dia. Não apenas compras pela internet. Nem mesmo apenas contato social pela internet. É preciso que a tecnologia faça o que deveria ser sua função há tempo: SERVIR ao ser humano, muito mais que à economia, ao comércio. Isso passa pela reformulação dos modelos econômicos também. É hora de refletirmos sobre nosso lugar nesse emaranhado de agentes que formam a sociedade. Qual nosso espaço e o que podemos e devemos fazer por um mundo melhor pós coronavírus? Qual o papel de cada instituição nesse cenário? Por que, por exemplo, campanhas de marketing de bancos insistem em afirmar (afirmar!!!!) que tudo voltará a ser como era antes? Por que é tão importante para eles que tudo volte a ser como era? Por que, para certas parcelas da sociedade, não há interesse em tentarmos buscar algo MELHOR? Nesse ponto, sugiro retornar ao post anterior e ler, novamente, sobre o BEM VIVER.


CALMAVAIPASSAR

Além das dicas do vídeo que inspirou essa reflexão e do canal de Monica de Bolle, cujos links você encontra logo abaixo, a dica de hoje é a leitura de alguns livros que podem ajudar a refletir sobre como e o quanto o mundo como conhecemos é, sim, passível de mudanças profundas. Se elas serão boas ou ruins vai depender muito do que deixaremos ou não que ocorra. O primeiro, companheiro meu desde os tempos de faculdade, é Admirável Mundo Novo, clássico de Aldous Huxley. Não o comentarei aqui porque precisaria um outro post inteiro para ele. Sobre como uma enfermidade pode definir os rumos que os seres humanos tomam e como isso pode relativizar o que conhecemos como aceitável ou não, temos o livro (ou série, se preferir) O conto da Aia, de Margaret Atwood. Aliás, para quem já é fã, agora temos a continuação do livro, sob o título Os testamentos. E para verificar como grandes mudanças no mundo não são apenas coisa de ficção, temos o maravilhoso Calibã e a Bruxa, de Silvia Federicci, que mostra que o genocídio não é novidade e não é exclusividade do holocausto de Hitler e, mais ainda, que nossa sociedade (tão idealizada por alguns) capitalista foi alicerçada em genocídios (sim, no plural, mais de um em mais de uma parte do mundo). Mas calma, vai passar. E fazer com que passe para algo melhor está (ainda está) em nossas mãos.


https://youtu.be/rPU28Sa9OJw Distanciamento Social - até quando? Átila Iamarino e Monica de Bolle


https://youtu.be/OvbusC7nZRQ Um mês de economia em tempos de pandemia. Monica de Bolle


 
 
 

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