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DIARIO DIA 56: E SEU FUTURO, COMO TEM PASSADO?

  • Foto do escritor: Regina Miranda
    Regina Miranda
  • 5 de jul. de 2020
  • 6 min de leitura

Perspectiva. Expectativa. O futuro. Terminei de assistir DARK essa semana (se você está vendo a terceira temporada, não se preocupe, não tem spoiler… mas se você nem começou a série e pretende ver, alerta!) e fiquei pensando sobre como a perspectiva de um fim do mundo, um apocalipse, afeta as pessoas. Perguntei-me: se eu ficasse sabendo que o mundo acaba daqui algumas semanas, o que eu pensaria, o que eu sentiria. O filme Melancolia, de Lars Von Trier * também lida com isso. A gente, de imediato, pensa que vai sair por aí, correndo, tentando encontrar Bruce Willis, pra dar um jeito nisso. Mas, na verdade, o mais provável é que não. Todo modo, o que consegui racionalizar disso foi: como a falta de um futuro nos afeta. Nós, seres humanos, uns mais, outros menos, temos esse hábito às vezes insalubre de nos concentrarmos no amanhã. Semana que vem vou começar uma dieta ou treino. Ano que vem, nas férias, vou fazer mais coisas e “vadiar” menos. Amanhã vou resolver esse probleminha de encanamento em casa. A partir de semana que vem vou agilizar a finalização do meu TCC. Não que seja algo negativo; pelo contrário, acho particularmente muito positivo planejar. Ajuda-me a organizar a vida, a rotina, ganhar tempo (tão precioso, o tempo); é algo pragmático, útil, e que ajuda a resolver muitos problemas. Mas nas reflexões dessa semana percebi que esse planejamento sobre o futuro tem um quê de highlander**. Eu sei que não estarei aqui em 2120. Mas fazer planos a longo prazo me dá a ilusão de que posso controlar o “destino” e, pelo menos, para a consciência da Regina de 2020, eu tenho ainda muito tempo de vida pela frente. A verdade é que nunca sabemos quanto tempo nos resta. Mas ter a perspectiva de que temos décadas a frente é particularmente saudável para nossa frágil psique.

Essa perspectiva também vale, talvez muito mais e além da questão de expectativa de vida, para as questões práticas da vida cotidiana. Quando estamos com gripe, sabemos que enfrentaremos uns dias de mal estar, febre, falta de disposição. Mas também sabemos que, em alguns dias tudo voltará ao normal em nossa vida. O mesmo com qualquer outra convalescença. O que é passageiro e com perspectiva de solução logo torna-se passado. Já situações de estresse em que não temos uma expectativa certa de tempo para solução, acabam causando um desconforto mais profundo. No início da pandemia, olhamos para a China e fomos levados a crer que a solução seria o distanciamento social por algumas semanas/meses. Hoje estamos diante da perspectiva de seguir nesse ritmo ainda por, pelo menos, seis meses. Ao que tudo indica, o ano letivo está perdido. Para muitos, o emprego foi perdido, a empresa quebrou, a fonte de renda, enfim, é incerta. Incerteza. Incertezas. Perspectivas, e a falta delas. A esperança, nessas condições, parece escorrer pelo meio dos dedos. Fica claro: a perspectiva de um certo futuro (certo, não incerto) e, principalmente, um PRAZO para se passar da “fase ruim” são perspectivas que facilitam muito nosso cérebro tão dependente de futuro a se manter saudável. Mas e quando estamos expostos, irremediavelmente, a um presente de futuro incerto? Quando não sabemos em quanto tempo teremos condições de definir qual é nosso novo normal.

Parece-me, então, que a essa altura da quarentena o #vaipassar começa a não surtir mais o mesmo efeito. Sinto que as pessoas ao meu redor (e a pessoa dentro de mim) começam a se perguntar: #quandovaipassar?

Pausa. Respiro.

E então repenso isso tudo. O problema é não termos prazo de fim da pandemia? Ou o problema é precisar desse prazo? Não sabermos quanto tempo ainda leva para essa questão ter um fim é algo que está além de nosso controle. Mas o trabalho mental para lembrar que podemos ver nossa existência individual por outro ângulo… isso está ao nosso alcance. Nesse exercício racional digno de Baran Bo Odar e suas pérolas (o que sabemos é uma gota, o que ignoramos é um oceano), pensei comigo: é hora de escrever o diário novamente. Há muitos dias que não o faço. E, talvez, esse fato seja o responsável por essa fase down. Então notei que esse lance de tempo sobre o qual venho divagando desde o início desse diário, essa sensação de distensão do tempo (coisa da qual ouvia falar mas nunca havia experimentado tão longamente) bateu tão forte nas últimas semanas que nem notei por quantos dias deixei de escrever. Compartilhando com vocês um pouco de minha forma de escrever esse diário: ao notar esse lapso, tratei de colocar a cabeça no lugar. Pensar no momento atual e sobre o que eu e as pessoas em torno de mim estão sentindo e falando, defini o tema do texto de hoje, e fiz uma rápida pesquisa na internet, sobre como essa “incerteza do futuro” afeta psicologicamente as pessoas. A matéria do El país*** caiu como uma luva nessas minhas divagações e, mesmo tendo sido publicada em abril (o que me parece, agora, um passado tão distante), serviu-me de reflexão para hoje… e para amanhã, afinal, é dele que estou falando… do amanhã. A matéria discorre sobre como os profissionais em isolamento por conta das características de sua atividade lidam com isso. Astronautas e cientistas de bases isoladas. Destaco um trecho:

“Eles sabem que haverá dias ruins, mas que passarão”, diz Emma Barrett, da Universidade de Manchester, especialista na psicologia destas situações extremas. “O importante é se centrar no presente e tentar não se deter em um futuro incerto. Concentre-se nas coisas que você pode controlar, não no que não pode. A ansiedade pode escapar do controle se você passar todo o dia se preocupando com o futuro”, insiste Barrett.

E eis que Barret diz exatamente o que pensei. O futuro está a nossa frente. A incerteza está em como ele será. Mas será. Talvez tenhamos, então, que aprender a deixar um pouco de lado essa necessidade de controlá-lo, de sabê-lo repleto de certezas. Talvez devamos nos preocupar mais em como fazer do HOJE, do presente, o melhor possível. Confesso que, para mim, isso é extremamente difícil. Um dos maiores desafios nas minhas aulas de Yoga… “concentre-se no aqui e agora”. É certo que atividades físicas, meditação e manter a mente ocupada ajudam a atravessar essa quarentena. Mas então, tudo isso é um treinamento para que sejamos capazes de manter isso em mente mesmo quando não estamos mais ocupando essa mente. Muitas pessoas relatam insônia. No momento em que deixamos nossa mente livre dessas ocupações esse “fantasma” se assanha e quer de todo modo voltar a tomar conta da gente. É nesse momento que precisamos lembrar… o futuro está lá. Ele pode nos trazer dias complicados, mas está lá. Ele pode estar “enfermo”, sofrendo da doença da incerteza, mas ele continua lá.

Ainda na matéria do El país, dei de cara com:

Os especialistas também recomendam escrever, por exemplo, um diário, pois proporciona uma válvula de escape para expressar seus sentimentos, além de ocupar o tempo. Diego Urbina, um dos tripulantes da Mars 500, recomendava há alguns dias escrever cartas ou e-mails em vez postar nas redes sociais: “Escrever mensagens longas e cartas ajuda a refletir, a fazer introspecção e permite um contato humano mais profundo do que o que podemos ter hoje através do WhatsApp”. Barrett também acredita que é útil porque ajuda a dar sentido ao caos.

Ok!, pensei eu, OK, universo! Recado dado e recebido. Escreverei agora mesmo. Então a dica de hoje tem a ver com isso. Estruturar o que pensamos, sentimos, tememos e desejamos pode ajudar. Outra jóia de dica nesses tempos de distanciamento social, de caos no que conhecíamos como a realidade social, ainda na mesma matéria, encontro:

“...tanto os astronautas quanto os cientistas usam um recurso que está em nossas mãos: comemorar. Festejar aniversários, pequenas realizações ou inventar motivos para organizar uma festa é fundamental para desfrutar de um momento de relaxamento divertido. “Essas pessoas valorizam os aspectos positivos de sua situação, como uma xícara de café perfeita ou umas risadas, se centram em pequenas realizações e comemoram essas pequenas vitórias com o grupo”, aponta Barrett.

Então, sigamos os conselhos e exemplos de quem sabe o que é o isolamento social:


Não sabemos quando exatamente, mas #vaipassar.

Que tal escrever? Um diário, talvez. Receitas que você faz “de cabeça” e pode compartilhar com outras pessoas. Dicas de como passar o tempo de forma saudável… o que dá certo para você? Ou talvez, concentrar-se no futuro que queremos, que todos esperamos… o pós pandemia. Como você imagina esse futuro? do que tem medo, o que deseja? Eu fiz isso em forma de conto. E presenteio meus leitores com este conto, que segue no próximo post. Meu futuro, mesmo que incerto, vai bem… porque ele continua lá. E o seu?

Ah… e vamos celebrar? #emcasa, com uma refeição especial, uma música, um vinho, um cinema em casa… uma festa dividida virtualmente com amigos. Celebre quem está com você, em casa, e compartilhe a celebração com quem quiser, virtualmente.



* Melancholy, filme de 2011, do diretor Lars Von Trier:


** Highlander - o guerreiro imortal é uma trilogia das décadas de 80/90, que conta a história de um escocês imortal. A expressão highlander, a princípio, refere-se ao morador da Escócia, conhecida como highland (terra alta). A acepção que uso aqui é uma referência à imortalidade do personagem Connor MacLeod, no sentido que fazemos planos sem saber se poderemos cumpri-los, pois não somos imortais.


*** Jornal El país, matéria veiculada em 11 de abril de 2020:


 
 
 

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