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DIÁRIO DA VIDA COTIDIANA

  • Foto do escritor: Regina Miranda
    Regina Miranda
  • 21 de mar. de 2020
  • 6 min de leitura

INTRODUÇÃO

Quero, aqui, trazer relatos que mostrem que a vida é possível e pode ser fruída nesse momento em que vivemos. Por isso, falarei dos detalhes técnicos da pandemia e dos problemas que ela traz o mínimo possível. Apenas suficientemente para que o cenário, o pano de fundo desse diário fique claro. Gosto de pensar que esta introdução funcionará para quem lê como o cenário físico num filme. Ela pode (e talvez deva) permanecer como pano de fundo. Ela permanecerá lá e fará parte do que se narra. Mas a narrativa e os personagens que se verá nesse cenário o transcendem. Existem para além dele. A narrativa de nossas vidas já transcorria antes do COVID19 e continuará transcorrendo depois, se tudo der certo. A vida das PESSOAS que estão ao nosso redor já transcorria antes desse momento de ESTAR (mais pra frente explico o “momento de estar”), e continuará transcorrendo depois, se tudo der certo.

Essa semana que passou foi um marco na vida de muitas pessoas, na História do país. Esta semana muita gente conheceu o coronavírus e começou a entender o que é o COVID19. Eu, de minha parte, havia lido alguma matéria, visto algum vídeo aqui e ali. Então quando, na segunda-feira, as notícias do que acontecia na Itália começaram a circular e comecei a ouvir pessoas repetindo a insanidade do presidente de nossa república, “é só uma gripe, não é para tanto, isso é histeria”, logo percebi que seria necessária muita conversa, muita conscientização, muita insistência até que as pessoas compreendessem que o caso é, realmente, sério. E que, sim, é “tudo isso”; sim, causará certo caos.

O que parece que ainda não está claro para alguns é que se esse caos será maior ou menor depende de todos. De cada um e da sociedade organizada também. O senso de comunidade terá que ser compreendido se quisermos sair dessa crise de saúde com o mínimo de mortes possível e com nossas mentes saudáveis. Como eu disse essa semana para alguém muito querido mas que, aparentemente, ainda não havia percebido a realidade: eu não quero imaginar que fui responsável, que ajudei numa situação que levou a morte de uma pessoa... uma sequer. Acho que se cada um tiver isso em mente, chegará a mesma conclusão que eu: ficar em casa o máximo possível é a única solução. E se ficar em casa o máximo possível, para o governo, para os líderes da nação, não significar FECHAR tudo que for possível para restringir a circulação de pessoas, então esse governo também será responsável pelas mortes a mais, pelo caos a mais que teremos. Não se trata de zerar riscos; isso é impossível. Mas de minimizar. E quando se fala em serviços essenciais, que não podem fechar, é necessário que fique claro que estes são farmácias, mercados, transporte (o mínimo) público, ESTE TIPO de coisa. O essencial é apenas e tão somente aquilo de que não podemos prescindir para subsistir, sobreviver.


A VIDA SEGUE

Diante dessa perspectiva, é preciso MUDAR nossa vida. Nossa rotina.

Hoje é sábado. Normalmente saímos, bebemos, conversamos. Sair? Nããããããããão.

Mas podemos, sim, conversar. O ser humano é essencialmente social. Amamos (e necessitamos) estar com outras pessoas. Família, amigos. Minha rotina desse fim de semana PRECISA ser diferente da semana passada. Mas, igualmente, PRECISA gerar algum prazer. Porque é assim que teremos energia, saúde e força para continuar. Minha intenção com esse registro é compartilhar as experiências de prazer e de comunhão social que podem, sim, existir nesse período de isolamento FÍSICO social, de quarentena. Afinal, esse período não será tão curto que passe despercebido, mas nos parecerá ainda mais longo se olharmos apenas os números (que não serão bons), os problema de agora e de depois. Então o que podemos buscar é encontrar uma nova rotina que, adequada às possibilidades da situação, nos faça olhar para outro lado durante boa parte do dia. Basicamente, que possamos lembrar que #vaipassar. Que nossa vida continua depois disso.

Posso dizer que tenho certa experiência nessa coisa de pensar/mentalizar o “vai passar”. E, certamente muitas outras pessoas também tem experiencias assim. Conto para vocês: minha filha nasceu com um problema ortopédico congênito. Nada que pudesse ser fatal (embora um primeiro diagnóstico, errado, tenha apontado para essa possibilidade; mas esse é um grande parênteses e aqui, não quero contar dele, quero resumir), mas um problema que, conforme foi-nos dito pelo médico (que a acompanha até hoje) dese o início, daria muito trabalho, exigiria dedicação exclusiva e mudaria totalmente nossa rotina. Normalmente a chegada de um bebê já é suficiente para mudar totalmente a rotina de qualquer um. Mas o problema dela exigia ainda mais adaptações da rotina, ainda mais cuidados e, infelizmente, não há muita literatura que ajude nessa parte de cuidados diários para o caso dela. Aqui um “mea culpa” porque eu havia decidido escrever sobre isso e ajudar quem mais esteja nessa situação e nunca consegui (quem sabe agora terei tempo!!). O que quero contar a respeito disso é que, naquele período, vivíamos “presos” a uma rotina estressante e cansativa parecida com a de agora. É claro que não era uma quarentena; mas não havia como sai com ela no período de tratamento (três meses). Tínhamos que estar atentos a muito mais detalhes de saúde, higiene no período anterior ao tratamento, por exemplo, porque qualquer problema de saúde (febre, diarreia) adiaria a internação e o tratamento. Certamente muita gente já passou por algo parecido. E PASSOU. Hoje, quando penso nessa época de minha vida, vejo o quanto tivemos que ser fortes e estar unidos. O quanto pudemos perceber que somos capazes de enfrentar adversidades que, por vezes, nem imaginamos. E isso fica muito mais fácil quando lembramos que PASSA. Que a situação não é permanente. Lembro-me de estar sentada com ela no colo, exausta pelas horas, dia e noite, em dedicação exclusiva, principalmente nos primeiros dias em que, durante o dia, basicamente passávamos procurando meios de garantir a imobilidade dela (usou um gesso desde a axila até a canela e a imobilização do quadril tinha que ser mantida sempre) e, à noite, estávamos garantindo a higiene do gesso e tentando acalmá-la quando tinha pesadelos por conta do procedimento hospitalar e anestésico. Nesses momentos de exaustão e desespero, o único pensamente que me ajudou evitar a depressão foi “vai passar”... é questão de tempo.

O que vivemos é um “momento de estar”. Não só porque temos que ESTAR em casa, parar de circular. Mas porque temos que ESTAR atentos ao que ocorre, estar saudáveis física e mentalmente para continuar, estar cientes de nosso papel nisso tudo. Hoje, estar (em estado de espera para o que mais importa) é mais importante que fazer, impulsionar, correr, mudar, agir. Estar é o verbo de AGORA. Estou pensando nesse momento de quarentena como uma ponte, pênsil, longa e extenuante. Porém o único caminho que pode nos levar ao outro lado. Ao depois. O equilíbrio nessa ponte depende de todos que estão nela. E manter todos nela, para chegar ao outro lado em segurança, depende de cada um e de uma ordenação da ação de todos. Ninguém pega na mão de ninguém e, contudo, todos ajudam todos a chegar ao outro lado. E embora tenhamos que ter em mente que alguns cairão, precisamos lembrar que muitos (e muitos mais se fizermos nossa parte) chegarão conosco ao outro lado, para continuar sua/nossa caminhada.


A DICA DE HOJE

Para hoje, a dica (que vou chamar daqui em diante de CALMAVAIPASSAR) tem a ver com estar juntos, mesmo que de longe. Quem, na verdade, teve essa ideia, foi minha querida cunhada, irmã. Trata-se de chamada de vídeo em grupo. Não é maravilhoso como a tecnologia está a nossa disposição!? Você liga para alguém via chamada de vídeo (watsap) e, depois, clica na tela e, no ícone no canto superior direito (+bonequinho), adiciona mais pessoas.

Fizemos essa “teleconferência” em família, ontem. Houve momento de falar sério (sobre o que contei lá na introdução), houve momento de rir. Houve criança pulando, cantando para os familiares distantes. Houve gente comendo chocolate e provocando os demais. Houve aquele clima de almoço de domingo em família, mesmo a gente não podendo comer maionese e reclamar da cebolinha, juntos. A vovó viu os netos, brincando, se provocando, dando risada. O sentimento de estar juntos esteve lá, o tempo todo. Duas horas de comunhão. Cada um na sua casa. E hoje acordei lembrando desse outro momento de minha vida. E lembrei do quanto foi importante para mim mentalizar: VAI PASSAR.

 
 
 

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