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DIÁRIO DIA 41: RESPIRE FUNDO

  • Foto do escritor: Regina Miranda
    Regina Miranda
  • 10 de mai. de 2020
  • 4 min de leitura

Tórax comprimido. Os pulmões expulsam o líquido amniótico. O choro. Quando nascemos, esse choro marca um momento de separação. Agora os pulmões têm que trabalhar sozinhos. Inspira, expira. Agora você tem que aprender a mover seu corpo. Pulmões, choro; mover braços, mãos, pernas, pés. Agora você é um ser apartado de sua mãe. O mundo é seu, para explorar com suas próprias forças, com sua própria curiosidade, com sua energia de vida e seu olhar que, neste exato momento de sua primeira respiração, é isento de preconceitos e livre. Você vai crescer, vai ser independente, vair cometer seus próprios erros e conquistar suas próprias vitórias. Mas terá suas referências, suas muletas (em quem se apoiar), seus exemplos. Dentre eles pai e mãe. Mas antes de ser um ser auto-suficiente, independente, você vai precisar muito desse alguém de quem agora você se separa depois de nove meses de coexistência. Nesse momento em que você tem seu cordão umbilical partido, como um laço que se desfaz, você começa a se distanciar dessa pessoa cujo corpo você habitou. Mas o quanto você realmente deixa de habitá-la? Quanto ela deixa de habitar em você? O quanto a distância que, agora, pode se fazer entre vocês realmente representa separação e distanciamento?

Aquele último empurrão. Você inspira profundo, prende o ar para canalizar sua força exatamente onde precisa e lança ao mundo esse ser que habia seu corpo há nove meses. Agora não tem volta, você pensa... o feto agora é do mundo. E isso te dá medo e, ao mesmo tempo, a maior felicidade de que você já teve notícia na vida. E aquele ser que coexistiu em seu corpo, que se fez presente dentro de você se manifestando em sensações, curvas no corpo, alteração do ponto de equilíbrio e do equilíbrio emocional que costumava definir quem/como você é, agora é livre para seguir seu caminho no mundo. Mas até ele realmente poder “andar com as próprias pernas”, você será sua referência, seu apoio, seu porto seguro, seu escape... e você amará ser tudo isso. E você temerá ser tudo isso. Você já teme e ama ser tudo isso. E então vem para seu colo um ser tão frágil e dependente e, ao mesmo tempo, com uma força de vida e de vontade que, você sabe, irá te dar trabalho para acompanhar. E quando olha para aquele rostinho, enrugado e contorcido em choro, você não sabe exatamente o que sente. Medo, sim, amor certamente... e algo que ninguém nunca conseguiu nominar. É alguém que estará sempre dentro de você, mesmo estando, agora, graças ao trabalho que você acabou de finalizar, livre para ir, para distanciar-se de você. Será que deixamos, realmente, algum dia, de sentir que o filho está dentro de nós? Será seu trabalho preparar esse ser para ir embora, para “cortar todos os cordões umbilicais” que ele possa sentir a prendê-lo na vida.

O distanciamento social, como todos sabemos, é a estratégia mais efetiva para evitar o pior cenário dessa pandemia que atravessamos. Essa força centrípeta que exercemos, por senso de responsabilidade parental no sentido de continuar “empurrando” esse ser que desejamos tanto ter grudado a nos para sempre, para que ele se torne um indivíduo independente e feliz, é a mesma força motriz de que precisamos lançar mão para passar por essa fase. Ficar longe de quem se ama é um desafio. Lembrar que esse distanciamento é uma demonstração de amor e consideração é a melhor forma de podermos praticar esse distanciamento mantendo vivo aquilo que nos une e que nos torna humanos: nosso relacionamento com outros seres humanos. Essa distância que somos obrigados a manter uns dos outros pode e deve ser preenchida pelo amor que a sustenta e a justifica.

Hoje, 10 de maio de 2020, é dia das mães. Por uma necessidade pontual, precisei me submeter a uma cirugia. A exposição ao ambiente hospitalar, mesmo com todos os cuidados extras que estão tomando por conta da pandemia, requer isolamento, quarentena. Deste modo, tive que sair de casa para não expor minha filha, que faz parte do grupo de risco, pois tem bronquite crônica. Por isso, hoje, o meu dia das mães foi longe dela. Pela primeira vez em cinco anos, não pude abraçar ou beija minha filha. O sentimento de perda e tristeza é muito difícil de explicar. Mas a presença de pessoas da família e o encontro virtual lembram que isso tudo é passageiro e que estar longe dela é um ato de amor. Enquanto transcorria o encontro virtual eu a observei, ao fundo (uma criança de cinco anos não fica muito tempo em frente à tela, ela logo foi brincar), com seus brinquedos e suas fantasias e pensei nessa distância forçada. E por ser dia das mães lembrei do quanto maternar é administrar essa distância, é empurrar o filho para a vida. Mas, ao mesmo tempo, estar presente. Constantemente. Mentalizei essa ideia, do empurrão final quando eu a pari. A sensação de que ela vai, inequivocamente, dia a dia, estar mais distante de mim. Isso é crescer. Mas mesmo longe, ela sempre estará dentro de mim. Acho que se eu fechar os olhos, respirar profundamente, meditando, e olhar para meu chakra vermelho, eu ainda vou senti-la em meu útero, e sua energia vital, se mixando à minha, não importa a quê distância ela esteja de mim, vai preencher qualquer vazio do espaço entre nós. E então me lembro que essa energia também preenche o espaço de 500 km entre mim e minha mãe.


CALMAVAIPASSAR


E a dica de hoje é um presente para todas as mulheres. Mães ou não. Trata-se do mais recente clipe do IRA, “Mulheres à Frente da Tropa”. Para lembrar a força psíquica das mulheres. Para lembrarmos que há uma força e energia vital dentro de nós que vai nos impulsionar a seguir em frente e atravessar essa ponte pênsil, bem mais longa do que parecia no início. Segue link... apreciem!


 
 
 

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