DIÁRIO DIA 6: O FEITIÇO DO TEMPO
- Regina Miranda
- 26 de mar. de 2020
- 4 min de leitura
Atualizado: 30 de mar. de 2020
Neste filme de 1993, o personagem principal, Phil, certo dia “fica preso no tempo, condenado a vivenciar para sempre os eventos daquele dia”*. Com esse mote, o roteiro nos leva à monotonia e prostração a que um ser humano pode chegar se levado a essa situação de saber exatamente o que irá lhe acontecer, de bom e de ruim. Phil tenta tirar proveito da situação como pode. Sabendo de antemão o que irá lhe acontecer, busca evitar problemas e se aproveitar das “informações privilegiadas”. Mas é inevitável que ele conclua que não há intensidade numa vida que repete o mesmo dia eternamente. Ele quer ir adiante, inclusive e, principalmente, com relação a seu relacionamento com Rita, sua produtora. Se não há um dia seguinte, não há como dar continuidade a nada. Essa falta de perspectiva leva o personagem, inclusive, a tentativas de suicídio (mas nem sobre isso ele tem controle pois, quando o dia termina, ele acorda novamente vivo).
Esse roteiro traz um paradoxo. O quanto podemos “prever o futuro” e quanto isso tem relevância? Em quê medida “voltar no tempo” garante que possamos agir e fazer com que nossas ações tenham um resultado melhor?
Circularam nas redes sociais, vídeos gravados por italianos, “avisando” outros povos (como nós, brasileiros) sobre a gravidade da situação da pandemia. É como se o “fantasma do Natal futuro”** viesse nos avisar de um futuro a ser evitado. O que vemos, hoje, são vários semelhantes ao senhor Ebenezer Scrooge, ignorando esses avisos em nome de suas fortunas. Líderes políticos e religiosos colocando suas próprias ambições acima da VIDA de MILHARES de pessoas. Não precisamos, pois, de uma máquina do tempo para sabermos, por certo, que o isolamento social é mais que necessário, ele é a UNICA esperança. Pelo menos, por enquanto, sem uma cura palpável para o COVID19, o isolamento social é a úncia forma comprovada de evitarmos que a tragédia seja ainda maior.
CALMAVAIPASSAR
A dica de hoje, então, tem a ver com o tempo. De fato, não precisamos voltar no tempo e avisar a nós mesmos da importância do isolamento social. Essa é a solução já informada a todos. Há quem rejeite, ou por ser o Sr. Ebenezer Scrooge de nossas terras tupiniquins, ou por ser mais um dos que crêem mais no que “o seu mestre mandou” do que naquilo de que se tem provas. Nós que estamos conscientes desse tempo que precisa PARAR, que precisa, sim, ficar mais lento em nossa rotina, que precisa olhar para si mesmo e avaliar o quanto anda correndo demais e deixando para trás momentos com a família, tempo de refllexão, tempo... Nós não precisamos de um fantasma do futuro que nos alerte. Mas podemos precisar de uma volta ao passado para nos alentar. Nossa dificuldade diária reside no ESTAR. Reside na saúde mental necessária para levar adiante o que sabemos que é o certo. Na força e serenidade necessárias para seguir adiante, sabendo que agimos para o bem da maioria, para salvar vidas. Porque TODA VIDA TEM VALOR, sim senhor. Todas as vidas que pudermos salvar. Toda e cada uma. Continuamos (e continuaremos) tendo que abstrair o discurso esquizofrênico contrário a essa consciência, que alega que algumas vidas podem ser sacrificadas em nome da “economia”. E sabemos, hoje, que esse período ainda vai longe. Que esse tempo de parada vai bem longe e, portanto, estamos no início daquela ponte pênsil. É natural que daqui alguns dias, semanas, estejamos ainda mais cansados dessa rotina de reclusão. E, em algum momento desse percurso, cada um de nós poderá, eventualmente, precisar ouvir uma palavra de força, de alento, de esperança e de certeza de que sim, este é o caminho certo. É o único caminho. A proposta é que nós mesmos sejamos nosos “fantasmas do passado”. A dica é escrever um bilhete para você mesmo, para ler daqui um tempo, quando sentir que precisa dessa mensagem, para lembrar que #VAIPASSAR.
Segue meu bilhete para a Regina de daqui umas semanas:
Hoje (meu hoje) foi um dia difícil. Quando mais o tempo passa, mais difícil é convencer uma criança de cinco anos de que ela não pode ir para a rua. Cecília queria levar os brinquedos para fora e brincar na área na frente de casa. Mas essa área serve até de garagem de vez em quando. Não, não é possível brincar nesse chão com segurança. A proibição gerou revolta! Foi um daqueles momentos de estresse ao extremo com os quais temos que lidar, segurar a barra e acalmar o filho que chora, e com razão. Respirei fundo e lembrei de que dias mais difíceis já se passaram e que amanhã é um novo dia e será mais radiante se a decisão de #ficaremcasa for mantida. Então se hoje (seu hoje) estiver sendo um dia ruim, respire fundo e lembre-se: vai passar. O tempo é nosso aliado nessa luta, desde que mantenhamos nossa determinação. Calma, vai passar!
*Do site Adoro cinema: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-8066/
**Referente ao filme Os fantasmas de Scrooge, de 2009. Neste filme, Ebenezer Scrooge recebe os fantasmas dos natais passado, presente e futuro, que tentam conscientizá-lo de suas ações egoístas e levá-lo a reconhecer os reais valores da vida.




Comentários