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  • Foto do escritorRegina Miranda

RESENHA ABRACADABRA 2

Elas voltaram. As irmãs Sanderson. Vinte e nove anos depois, elas voltam decididas a tomar de volta seu lugar em Salém, se vingar de toda a cidade e, desta vez, tornarem-se ainda mais poderosas e imortais. Repete-se, assim, o roteiro de adolescentes em apuros com o surgimento das três e da busca pela magia perfeita e pela libertação em detrimento do bem-estar de toda a cidade.

As bruxas de Salém, nessa continuação do filme da década de 1990 ainda são retratadas como mulheres cruéis que buscam poder e libertação, sem se importar com quem vão ferir no caminho dessa conquista. Mas, sim, temos uma tentativa de redenção aqui, novamente, a exemplo de outras produções contemporâneas. Tanto a redenção das próprias vilãs, quanto a redenção da produtora do filme.

O filme começa trazendo a origem da condenação das irmãs um pouco mais no passado. A então adolescente Winifred se vê sendo obrigada a casar-se. Ela se recusa de modo veemente e, para os padrões patriarcais e machistas, intransigente. Como resultado, o reverendo da cidade, "em nome de Deus", tenta separá-la das irmãs. Assim, o filme consegue humanizar essas personagens, demonstrando (a exemplo do quem já vem acontecendo com outras histórias de bruxas e princesas) que atitudes maldosas tem, muitas vezes, origem em situações de desespero e revolta.

Para além disso, sem dar mais spoiler que o necessário, vemos novamente esse amor de Winnie pelas irmãs ser o ponto final de redenção das três. Elas são retratadas, nessa sequência, muito mais como vítimas que deixaram sua revolta tomar conta e as tornar as vilãs do que como, simplesmente, mulheres cruéis e vingativas “por natureza” como ocorre no primeiro. É assim que a produção do filme também dá um passo em direção à redenção da indústria cinematográfica, dando às personagens a profundidade necessária para que o filme possa fugir do lugar comum de criação maniqueísta.

De modo geral, é animador ver que essa indústria está buscando não repetir os erros do passado. Não tanto em celebração e reconhecimento a essa indústria, mas muito mais em comemoração ao resultado de anos de luta feminista. É preciso lembrar que não é “de graça” que essas produções estão “justiçando”, por assim dizer, esses personagens e histórias, mostrando o quanto princesas e príncipes pode ser muito mais cruéis do que as chamadas bruxas. Essa mudança é, na verdade, uma resposta aos gritos e exigências das mulheres conscientes da verdadeira vilania: o patriarcado.

Se, hoje, podemos ver histórias em que malévolas e Sandersons ganham essa profundidade necessária para que se entenda que sua atitude, embora reprovável sim, é resultado de uma crueldade ainda maior praticada contra elas, é porque muitas (inclusive chamadas de bruxas tantas vezes) de nós levantaram suas vozes para denunciar essa injustiça histórica. Então vamos lembrar que essa mudança de paradigmas não é bondade ou bom senso da indústria cinematográfica, mas resultado da luta feminista. E vamos lembrar, também, que essas vozes feministas ainda têm muito que conquistar, muita injustiça a desfazer e, sempre, lutar para manter o que já temos. Como diz Simone de Beauvoir, a qualquer tempo “os direitos das mulheres podem ser questionados”.



Você pode assistir Abracadabra 2 no canal Disney

Se quiser saber um pouco mais sobre o que eu penso das produções infantis sobre princesas e bruxas, pode leu meu ensaio sobre o tema.

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